domingo, 7 de março de 2010

Hypatia de Alexandria




Impossível não lembrar dessa mulher tão sábia, tão virtuosa e tão fiel aos seus princípios e aos seus conhecimentos.

Uma natureza tão elevada e tão exemplar sempre foi uma fonte de inspiração e admiração da minha parte.






Entre mentes tão elevadas e tão autênticas, o mundo nos presenteia com eventos admiráveis e inéditos. Essas mentes, masculinas e femininas colorem e dão sabores a todas as coisas visíveis e invisíveis que nos rodeiam.

Mulheres como Hypatia são símbolos que povoam o nosso inconsciente coletivo dando-nos direções de como encontrar o nosso verdadeiro Ser, Consciente e Individual.




HYPATIA DE ALEXANDRIA - Alguns historiadores acreditam que ela tenha nascido no ano 370. Seu pai, Theon, foi o último diretor do Museu de Alexandria e professor universitário de Matemática.

Theon educou sua filha para o mundo do pensamento elevado, ensinando tudo que sabia, compartilhando com ela a busca pelo desconhecido. Ela cresceu nesse ambiente especial, buscando o conhecimento de si e dos outros e da Matemática, Astronomia, Astrologia e etc..



Além dos conhecimentos intelectuais e da beleza de sua essência, essa mulher cuidava também da sua beleza física fazendo exercícios para assegurar um corpo saudável e uma mente brilhante.

Seu pai a orientou acerca das religiões dando noção e comparação entre elas, resguardando a liberdade na compreensão das coisas e no religare. Ensinou a arte da oratória para que sua filha tivesse o dom da palavra e pudesse influenciar através do verbo, tornando-a uma mulher instruída que pudesse instruir os outros.



Hypatia era conhecida e se apresentava como filósofa, cientista, erudita sendo a primeira mulher a se destacar na Matemática. Era uma excelente professora que dirigia uma escola neo platônica. Era procurada por alunos de sua cidade e de outras regiões buscando seus ensinamentos. Era considerada uma fonte de conhecimento e até uma espécie de oráculo, tanta era sua sabedoria. E o mais ousado ainda por ser uma mulher.


Synésio de Cirene (370-413) era um dos seus alunos e trocavam correspondências e através dessas cartas verificou-se que o astrolábio, um instrumento para estudar a astronomia, era invenção dela, assim como o planisfério e até um hidrômetro.


Hypatia ficou mais conhecida com seus trabalhos no campo da matemática do que na astronomia, principalmente com as idéias das seções cônicas introduzidas por Apollonius. Ela editou esse trabalho tornando-o mais simples de compreender contribuindo para o desenvolvimento das hipérboles, das parábolas e das elipses.


Uma mulher importante no Mundo da Matemática, com um detalhe, a primeira. Mais tarde, Descartes, Newton e Leibniz ampliaram em seu trabalho. Com seu pai, ela escreveu um tratado sobre Euclides.

Na verdade era um desafio para a cultura machista da época, uma mulher tão grandiosa como Hypatia.

Ela viajava muito e até mesmo conduzia a sua própria carroça, o que era um escândalo na época, pois onde já se viu uma mulher fazer tal coisa? E por conta dessas viagens ela era bem conhecida e exercia grande influência por onde passava.

Exercia uma liderança na política e na luta contra as superstições que imperavam naquele momento da história, onde cristianismo e paganismo viviam em pé de guerra.

No meio cristão era considerada uma criminosa e uma subversiva por seguir os princípios pagãos de Platão e Aristóteles. Como Matemática, os princípios de Pitágoras.

Por conta de tudo isso era odiada por um tal de Cirilo (bispo de Alexandria), que era um fanático cristão. Orestes, seu opositor, era o regulador civil e amigo de Hypatia.

Cirilo sentia um ódio mortal por essa mulher sábia e pagã e por isso instigou seus fiéis contra ela. Cirilo iniciou um movimento de oposição ao paganismo e a perseguia de forma acirrada.


Quando a Filósofa estava conduzindo sua carroça como sempre o fazia, foi abordada pela turba enfurecida. Arrancaram Hypatia do seu veículo, rasgaram suas vestes e a arrastaram pelas ruas. E de forma cruel cortaram seu corpo com conchas afiadas, retalhando-o até a morte. Espalharam algumas partes do seu corpo pela cidade e depois queimaram o que restou na biblioteca de Caesarium.


O pior de tudo, o papado homenageou esse cruel Cirilo por sua bravura em favor da sua religião cristã contra o paganismo de Hypatia. Foi considerado pela igreja como São Cirilo e com certeza muitos já ouviram falar esse nome e mal sabem o que ele fez.

A morte de Hypatia foi por volta de 415 d.c. É considerada hoje, não somente como uma mulher da Ciência, da Matemática, mas também uma grande Filósofa.

Sua vida terminou de maneira trágica, mas a sua história permanece assim como suas obras.



Um de seus alunos, Hesíquio o hebreu, escreveu: “Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que quisessem ouvi-la... Os magistrados costumavam consultá-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.

Synésio, bispo de Tolemaida, numa de suas cartas, expressa o carinho que tinha por sua querida mestra exaltando suas grandes virtudes:
“Meu coração deseja a presença de vosso divino espírito que mais do que tudo poderia adoçar minha amarga sorte. Oh minha mãe, minha irmã, mestre e benfeitora minha! Minha alma está triste. Mata-me a lembrança de meus filhos perdidos... Quando receber notícias vossas e souber, como espero, que estás mais feliz do que eu, aliviar-se-ão pelo menos a metade de minhas dores”.

A escritora e jornalista Marília Pacheco Fiorillo escreveu algumas coisas sobre a Hypatia de uma forma fictícia, baseada em fatos reais:

“Esta é uma falsa ficção. As vozes são inventadas, mas baseadas em fatos, personagens, peripécias e inclusive pormenores históricos, absolutamente reais”.

“Eu, Hypatia, filha de Theon, o guardião da Biblioteca, filha da Idéia e irmã da Razão, instruída nas artes e ciências de Platão, Plotino e Ptolomeu, de linhagem grega no espírito e macedônica no sangue, eu, que interrogo o movimento dos céus, do sol e das estrelas e por isso inventei o astrolábio, que pondero a gravidade de toda substância líquida e para isso inventei o hidrômetro, eu, astrônoma, matemática, geômetra, estudiosa do cosmos e das formas das coisas, eu, presença que é como um magneto e atrai multidões para os salões da Biblioteca, mais, sempre mais gente a me ver e ouvir, eu, cujas lições graves e serenas encantam a todos, judeus, romanos e egípcios do Delta, eu, cuja palavra esparge um fármaco que cura as exasperações e dissolve as dúvidas, cuja fama de sabedoria corre o Mare Nostrum e fez de Orestes, o prefeito da cidade, meu cativo, meu discípulo, meu seguidor, eu, cujos conselhos têm força de ordens, que dobro os desígnios com o sopro do verbo, cuja discreta autoridade é peremptória, indisputável, eu, a última filósofa de um mundo que está prestes a ruir e doravante abominará o atrevimento do intelecto, eu, Hypatia, daqui desta nova Atenas, a gigantesca cidade de Alexandria, no ano 415, escrevo a Sinesio, amigo e devotado aluno, que, soube, foi nomeado bispo da Cirenaica, de todo norte da África, para aquietá-lo. Pois dele recebi esta carta:

De Ptolemaide a Alexandria, início de 413.
Saudações, bem-aventurada Senhora, a ti e aos felicíssimos companheiros. Já há algum tempo pretendia repreendê-la por não me escrever, pois não me considera digno de uma resposta. E se tu, beata Senhora, e todos vós, me desdenhais, não será por minha culpa, pois não há culpa em ser desafortunado como só um homem pode ser. Mas se ao menos pudesse ler tuas cartas e saber como estás (espero que gozando da melhor fortuna), me bastaria, pois me regozijaria por ti, reduzindo assim à metade as minhas agruras. Porém agora o teu silêncio se junta aos males que me afligem. Perdi os filhos e os amigos, e a benevolência dos semelhantes. Mas a perda maior é a falta que sinto de teu diviníssimo espírito, o único bem que esperava me restasse para ajudar-me a superar os caprichos da sorte e os engodos do fado.” (Marilia Pacheco Fiorillo)

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