segunda-feira, 8 de março de 2010

O discurso sem nexo de FHC

Por que o discurso de FHC não tem nexo 

7/03/2010 - 10:27 

Fonte:Blog Luiz Nassif
L
inks no fim do post

É curioso o artigo de FHC no Estadão. Achava besta a crítica que se fazia a ele com aquele “esqueçam o que escrevi”. Quem não muda suas ideias, para um mundo em constante mudanças, é poste. O verdadeiro intelectual sabe observar a mudança dos ventos. Os melhores conseguem antever. Os medíocres repetem mantras que funcionaram por algum tempo e se tornaram obsoletas.

Mas o artigo de FHC hoje é “esqueçam tudo o que defendi e fiz”, porque não deu certo.



FHC repete a lógica do discurso de Serra, de ler o Brasil por inteiro, das diretas até hoje. Depois avança em críticas pontuais que demonstram o desconhecimento da realidade econômica do país – aliás, postura usual quando era presidente – ou desconhecimento dos princípios que nortearam seu governo.

Se a ideia é analisar 25 anos de país, onde entra seu governo, que exacerbou (agravando ao gerar e até mesmo aprofundar) todos os problemas que ele aponta em seu artigo?

[Quadro comparativo dos 8 anos de FHC com os, apenas, 4 anos de LULA até 2006. Não entra aqui o segundo mandato de Lula, em que os números são mais positivos  a favor de Lula e, lógico, para o Brasil.]

Ele critica – com razão – a deterioração do balanço de pagamentos. No plano Real, essa deterioração foi intencional, visando transferir o controle da política econômica para os detentores de fundos externos. Critica – com razão – a criação de supergrupos nacionais. Mas foi no seu governo – com a escandalosa fusão da Brahma e da Antárctica – que se deu início a esse processo. 
Um dos erros monumentais do governo FHC foi ter induzido a uma conglomerização da economia que destruiu cadeias produtivas inteiras. O próprio modelo de privatização das telecomunicações nem pensou em preservar as pesquisas e a cadeia de fornecedores nacionais
(Luis Nassif)
Depois, cobra eficiência no programa energético, especificamente no biodiesel.

Ei!, em que planeta vive FHC? 
O seu governo abandonou os investimentos em hidrelétricas, deixou de lado a bioenergia, focou exclusivamente em termoelétricas que se mostraram incapazes de atender à demanda.



    • Nota 1: O TCU quantificou os prejuízos que o apagão elétrico da era FHC impôs ao país: R$ 45,2 bilhões. O grosso do dano (60%) –R$ 27,12 bilhões— veio na forma de aumentos cobrados nas contas de luz de empresas e pessoas físicas (principalmente). O resto foi bancado pelas arcas do Tesouro, nutridas pelo contribuinte. Segundo o TCU, o governo teve de aportar recursos em companhias de energia elétrica. (leia mais aqui)

    Há uma matriz energética complexa, que tem sido enriquecida pelo gás, pelas energias alternativas (que saltaram de 0,5% para 6% da matriz). O biodiesel tem avançado, sim (principalmente no Gov Lula). Por ser experiência pioneira, com agricultura familiar e com produtos ainda em teste, há cabeçadas. Mas existem usinas funcionando perfeitamente, erros identificados e o programa avançando. Mesmo que não avançasse a contento, é uma gota dentro da matriz energética brasileira.

    FHC defende – com razão – a melhoria da qualidade dos serviços públicos. Mas foi incapaz sequer de entender programas básicos de gestão. Não deu continuidade a nenhum programa de gestão nascido no seu governo.
    Critica o pré-sal pelo fato de não se discutir a busca de tecnologia adequada. Mas é criticar por criticar. Há o envolvimento da Petrobrás com dezenas de instituições de pesquisas (leia aqui um bom exemplo), avançando em todas as áreas, da prospecção em águas profundas a novos materiais.

    O curioso é, FHC, tentar recuperar o ideário inicial do PSDB, de uma visão não ideológica sobre o Estado e sobre as estatais. Prezado EX-presidente, esse ideário está morto e enterrado no PSDB. E quem o matou foi o senhor. 
     
    Disse FHC: “Perdemos tempo com uma discussão bizantina sobre o tamanho do Estado ou sobre a superioridade das empresas estatais em relação às empresas privadas, ou vice-versa. Ninguém propõe um “Estado mínimo”, muito menos o PSDB”.

    Ora, vá contar isso para esse exército radical e primário da mídia (o famoso PIG), para quem o PSDB terceirizou o discurso político e econômico. Como guru maior desse grupo, FHC permitiu até à exaustão o discurso emburrecedor de que tudo o que vem do Estado é ruim. Como o discurso tornou-se inócuo, atropelado pela crise, agora ele quer mudar. Não vai recuperar o discurso nem a respeitabilidade intelectual. 
      • Nota 2: Uma boa leitura a se fazer sobre a crise de 2009 é do artigo de Bresser Pereira intitulado  "a moral e a Crise". Nesse artigo ele deixa claro que "a presente crise é também uma crise moral. É consequência da ideologia neoliberal e da theoria econômica orotodoxa ou neoclássica. Ambas ensinam a tese da "mão inivisível" e rejeitam a existência do interesse público e, portanto, da necessidade de virtudes cívicas nos cidadãos". (clique aqui para ler).

    Esse é o problema de FHC e de Serra.


    Os grandes comandantes, os formuladores, os estadistas defendem ideias que consideram corretas e esquecem o modismo do dia-a-dia. Quando as idéias defendidas entram na moda, eles são os vitoriosos. A dupla FHC-Serra conseguiu, ao longo dessa década, destruir o discurso do PSDB, misturá-lo com o neoliberalismo radical do mercado, do DEM. Agora querem um reaggiornamento? Não é sério.

    A montagem deste Post tem com fontes os links abaixo: