segunda-feira, 29 de março de 2010

Tereos traz sede e ativos para o Brasil - É a primeira multinacional que transforma o país em seu centro financeiro

Tereos traz sede e ativos para o Brasil
É a primeira multinacional que transforma o país em seu centro financeiro

Graziella Valenti, de SP – VALOR

O grupo francês Tereos, dono da Açúcar Guarani, quarta maior empresa do setor sucroalcooleiro nacional, escolheu o Brasil para ser o centro financeiro de seu negócio. A companhia trará seus ativos da Europa e da região do Oceano Índico – estimados em € 1 bilhão – para uni-los com a Guarani, numa operação que totaliza € 1,7 bilhão.

Será criada a Tereos International, que abrigará os ativos estrangeiros, com exceção da produção de açúcar de beterraba na França, e terá sede no Brasil. Essa companhia vai incorporar a Guarani.

Após a combinação, o grupo estuda fazer uma oferta de ações no Novo Mercado da BM&FBovespa junto com a listagem em Paris, na Euronext. O grupo Tereos não tem ações negociadas em bolsa. É a primeira multinacional que transforma o país em seu centro financeiro. A companhia no Brasil terá cerca de 80% de todos os ativos do grupo francês.

O negócio combinado terá uma receita líquida da ordem de US$ 2,5 bilhões e um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) de US$ 366 milhões. Sozinha, a Guarani tem receita líquida anual de R$ 1,5 bilhão e lajida de R$ 244 milhões. 
O objetivo, com a operação, é preparar a empresa para a consolidação do setor de açúcar e álcool, a partir do Brasil. A principal fonte de receita do negócio externo é o amido. A companhia é dona das marcas Syral, Benp Lillebone e De La Valle, produtora da vodca Grey Goose.

A Guarani tem dívida líquida de R$ 1,1 bilhão, equivalente a cerca de 4 vezes seu lajida. Como a Tereos detém 69% do capital, a empresa está com capacidade limitada tanto para ampliar alavancagem com novas dívidas como para emissões de ações, sem com isso diluir o controle do controlador francês. Após a combinação e antes de uma possível oferta de ações, a dívida deve ficar próxima de 3,2 vezes o lajida. A junção das operações também trará um fluxo de caixa estável ao volátil negócio sucroalcooleiro.

No ano passado, enquanto os demais grupos avançaram na consolidação, a Guarani ficou praticamente parada e seu maior movimento foi a compra de metade de uma pequena usina paulista.

A relação de troca para a incorporação da Açúcar Guarani pela Tereos International ainda não foi determinada. As condições serão estabelecidas por um comitê independente a ser criado.

A expectativa é que a incorporação ocorra no fim de junho. Portanto, a capitalização do negócio só poderia se realizar no segundo semestre. A operação foi assessorada pelo Rotschild.

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Aposta da Tereos se assemelha à da Shell

Graziella Valenti e Fabiana Batista, de SP – VALOR

O grupo francês Tereos, que comprou o controle da Açúcar Guarani no fim de 2004 e agora está criando a Tereos International, tem a estrutura de uma cooperativa e reúne 12.000 agricultores, que produzem e comercializam sua produção de beterraba e de cereais. O Tereos é resultado da fusão, há seis anos, entre as empresas Union SDA e Béghin-Say.

Quarta maior produtora de açúcar, de álcool e de produtos à base de amido do mundo e terceira maior produtora de áçuçar da Europa, a Tereos tem 30 unidades industriais na Europa, Brasil, Moçambique e na Ilha Reunião, um departamento francês no oceano Índico.

Nas regiões onde atua, cultiva um total de 920.000 hectares com beterraba, cana-de-açúcar e cereais para produção de açúcar, glucose e etanol (à base de cereais, de amido e de cana).

O movimento do grupo francês Tereos no Brasil é, em alguma medida, semelhante ao do grupo Shell, na parceria que está costurando com a Cosan. O Brasil é o principal produtor de açúcar e álcool e, por isso, ambas as multinacionais escolheram companhias brasileiras para avançar nesse negócio.

Ao transferir a operação de amido para a Guarani, o grupo francês traz um fluxo de caixa estável à atividade, oferecendo condições de a empresa avançar na consolidação nos momentos de fragilidade do setor. Lógica semelhante está no ingresso da Cosan no ramo da distribuição, operação de menor margem, mas com fluxo estável de recursos.

O executivo André Trucy comandará a Tereos International. O executivo já foi presidente da Rhodia no Brasil e do grupo francês Roquette, do ramo de amido. Jacyr Costa continua presidente da Açúcar Guarani, que se tornará subsidiária integral da Tereos International.

Para uma pequena reorganização societária na França, que precedeu a operação no Brasil, a Tereos International foi avaliada em € 1,021 bilhão e a Guarani, em € 686 milhões. Por esses números, o percentual do capital da empresa hoje em bolsa, de 31%, iria para 12,5%, antes de uma nova emissão. A análise também indica um prêmio de 21% sobre as cotações da Guarani.

A Guarani tem capacidade de processamento de 15,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Na safra 2010/11, deve produzir 1,3 milhão de toneladas de açúcar e 430 milhões de litros de etanol, além de comercializar 300 GWh de energia. (Colaborou Alda do Amaral Rocha)
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