domingo, 7 de fevereiro de 2010

A geopolítica do poder e as relações internacionais Brasil e EUA

"Com a crise haitiana, avança a militarização das relações entre os EUA e América Latina. Porque o problema central para a hegemonia dos EUA no seu "quintal" é o Brasil"

O momento como sempre é de calmo desespero. Se atentarmos para as articulações da atual geopolítica que, para sorte & azar (nossos), pela primeira vez inclui a América Latina em geral e o Brasil em particular no Grande Jogo, e este, ao lado da China, como alvos fundamentais a serem neutralizados pelas forças norte-americanas (leia-se IV Frota).
A abordagem procede até porque, segundo comentou ironicamente Noam Chomsky, os governos democratas sempre excederam em belicosidade os republicanos, até porque a xenobofia destes últimos sempre foi tão grande contra estrangeiros, negros, índios, mexicanos, gays, mulheres e chiwawas (nesta ordem) – enfim, qualquer coisa que andasse e rastejasse na face da terra e não fosse um wasp – que literalmente os prendia dentro de casa. E isso até os Bush (pai e filho) chegar e lhes mostrar “novos horizontes”. Não apenas janelas, mas verdadeiros PORTAIS de oportunidades!

Uma análise especialmente brilhante de Raul Zibechi* considera que, com a crise haitiana, avança a militarização das relações entre os EUA e a América Latina como parte da atual política externa de Washington. A intervenção é tão escancarada que o jornal chinês Diário do Povo pergunta se os EUA pretendem incorporar o Haiti como mais um Estado? Em apenas uma semana o Pentágono mobilizou para a ilha um porta-aviões, 33 aviões de socorro e numerosos navios de guerra, além de 11 mil soldados. A Minustah, missão da ONU para a estabilização do Haiti chefiada pelo Brasil, tinha apenas 7 mil soldados.

O problema central para a hegemonia dos EUA no seu “quintal” é o Brasil.

O petróleo é uma riqueza importante. Mas é preciso extraí-lo e transportá-lo, o que significa investimento, ou seja, estabilidade política.
Clique aqui para ler sobre a invasão do Iraque.
Clique aqui e aqui também para ler sobre as bases militares dos EUA na Colômbia.
O Brasil já é uma potência global, é o segundo dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ficando atrás em importância apenas da China. Dos dez maiores bancos do mundo, três são brasileiros (e cinco chineses). Nenhum destes dez bancos é norte-americano ou inglês. O Brasil tem a sexta reserva mundial de urânio (com apenas 25% de seu território investigado) e estará entre as cinco maiores reservas de petróleo quando for concluída a prospecção da bacia de Santos. As multinacionais brasileiras figuram entre as maiores do mundo. A Vale do Rio Doce é a segunda mineradora e a primeira em mineração de ferro; a Petrobras é a quarta empresa petrolífera do mundo e a quinta empresa global por seu valor de mercado; a Embraer é a terceira empresa aeronáutica, atrás apenas da Boeing e da Airbus; o JBS Friboi é o primeiro frigorífico de carne de gado bovino do mundo; a Braskem é a oitava petroquímica do planeta. E por aí vai.

Ao contrário da China, o Brasil é auto-suficiente em energia e será um grande exportador. Sua maior vulnerabilidade, a militar, está prestes a ser superada graças à associação estratégica com a França. Nesta década, o Brasil fabricará aviões caça de última geração, helicópteros de combate e submarinos devido à transferência de tecnologia francesa. Até 2020, se não antes, será a quinta economia do planeta. E tudo isso ocorre debaixo do nariz dos EUA. O autor observa que o Brasil já controla boa parte do Produto Interno Bruto da Bolívia, Paraguai e Uruguai, tem uma presença significativa (no mínimo) na Argentina, da qual é sócio estratégico, assim como no Equador e no Peru, porque estes facilitam seu acesso ao Pacífico. Aí está o osso mais duro para a IV Frota.

O Pentágono desenhou para o Brasil a mesma estratégia que aplica na China: gerar conflitos em suas fronteiras para impedir sua expansão e influência, a exemplo da Coréia do Norte, Afeganistão, Paquistão, além da desestabilização da província de Xinjiang, de maioria muçulmana. Na América do Sul, uma constelação de bases militares do Comando Sul circunscreve o país pela região andina e o sul. A pinça se fecha com o conflito Colômbia-Venezuela e Colômbia-Equador. Agora contará com o porta-aviões haitiano, que desloca da ilha a presença brasileira, até agora dominante, à frente da Minustah. É uma estratégia de ferro, friamente calculada e rapidamente executada. O problema a ser enfrentado pelas nações e povos da região é que as catástrofes naturais serão uma moeda de troca – e um grande pretexto - nas próximas décadas. Isso é apenas o começo. A IV Frota será o braço militar mais experimentado e melhor preparado para intervenções “humanitárias” em situações de emergência.

Aliás, o que vem ocorrendo no Haiti é apenas a prática mais atualizada daquilo que Naomi Klein chama de “Capitalismo de Desastre” – vide tsunamis, katrinas, iraques & outros onze de setembro – não vou dar o crédito do livro de novo porque já estou enchendo o saco. Chega a ser tedioso. E desse ponto de vista (e tem outro?), o terremoto do Haiti literalmente caiu do céu para os rapazes de Washington.
E aqui vou citar Condoleezza Rice, a fada madrinha das hecatombes neoliberais, em nota ao Congresso Americano após o Onze de Setembro: "Esta é uma oportunidade maravilhosa!!!!!!!!!!!!!!"

Fontes do post:

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